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Marcos Verlaine: Em política, o que interessa é a economia

Ao reiniciar ao ano político, com a retomada dos trabalhados legislativos, fica evidente o que de fato interessa e é relevante para o governo e a maioria congressual alinhada e sob a batuta do mercado — a economia. A mensagem do governo para o Congresso no reinício do ano político não abordou outro assunto que não fosse o da agenda econômica.

Marcos Verlaine*

Esqueça a pauta de costumes ou a pauta “ideológica” do governo. Não é isto que interessa. Essa tem sido usada para dispersar, tomar tempo útil e consumir as energias de quem diverge do governo. Essa pauta só tem tido vasão nas redes sociais e nas abstrações do chamado “bolsonarismo raiz”. Na vida real, o que interessa é a economia ou a agenda econômica. É esta que carece de disputa real, no mundo real.

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Já foi assim em 2019 e vai continuar assim também em 2020. Nada mudou ou mudará em relação a essa demanda do governo e da maioria congressual.

A chamada pauta “ideológica” do governo tem 2 objetivos concretos: mexer com as abstrações da base ideológica do bolsonarismo, a fim de mantê-la mobilizada, atuante e em constante estresse para defender o governo e, principalmente, seu líder, o presidente Jair Bolsonaro em qualquer circunstância; e desalentar o pensamento progressista mantendo-o inerte e em catatonia.

Portanto — passado 1 ano de gestão do grupo alçado ao poder liderado por Bolsonaro — todos que divergem da orientação do governo, nos planos político e econômico, precisam focar na agenda real, que é a do Ministério da Economia, orientada pelo mercado.

Esqueçam “Escola sem Partido”, “abstinência sexual”, “não houve ditadura ou escravidão”, “satanismo” e outras maluquices propagadas pelo chamado núcleo “ideológico” do governo e suas milícias digitais. Isto é retórica para testar as resistências e ânimos divergentes do pensamento progressista nas plataformas virtuais.

No mundo real da política, sobretudo nos dias de hoje, não há espaço para essa “agenda de costumes”, sobretudo a revisionista. O pensamento progressista foi pego de surpresa e, portanto, dragado para as abstrações tresloucadas. E, agora, não está conseguindo sair desse túnel aparentemente sem fim.

Observem que essas pautas de costumes ou “ideológicas” são apenas disputas de narrativas sem rumo. Nada disso teve efetivamente relevância real. Enquanto há uma luta sem quartel nas redes sociais em torno dessas pautas, o núcleo econômico do governo, comandado por Paulo Guedes, avança sobre os direitos reais e concretos dos trabalhadores e do povo e o patrimônio do País.

Em 2019, a economia foi prioridade. O governo aprovou a Reforma da Previdência enquanto se debatia nas redes assuntos absolutamente secundários. Qual foi a mobilização relevante contra a reforma? Não houve. Em 2016 e 2017, Temer aprovou o Teto de Gastos, que congela por 20 anos investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura, entre outras despesas primárias do governo. Aprovou a Terceirização geral da mão de obra e a Reforma Trabalhista. Iniciativas que prometiam combater e reduzir o desemprego.

Em 2018, reinaram e prevaleceram as chamadas “Fake News” no debate eleitoral. Não houve espaço para discussão dos grandes dilemas e problemas da Nação e do povo brasileiros. O debate em torno das questões como desemprego, trabalho, economia, saúde, educação, segurança e infraestrutura passaram ao largo das preocupações dos eleitores, porque prevaleceu uma agenda falsa, inventada para amedrontar incautos e despolitizados.

Pauta econômica

Ao reiniciar o ano político, com a retomada dos trabalhados legislativos no Congresso, fica evidente o que de fato interessa e é relevante para o governo e a maioria congressual alinhada e sob a batuta do mercado — a economia. A mensagem do governo para o Legislativo não abordou outro assunto que não fosse o da agenda econômica.

Reforma tributária para racionalizar a cobrança de impostos e tributos. Mas essa não menciona, nem resvala na questão da distribuição de renda. Reforma administrativa para diminuir o papel e tamanho do Estado brasileiro, com redução do número e do salário dos servidores. Estas são as prioridades do governo, sob o comando de Paulo Guedes.

Enquanto Bolsonaro comanda a arenga contra os jornalistas e os identitários, o Congresso discute a privatização da Eletrobras, setor estratégico da economia nacional, a independência do Banco Central, para que a autoridade monetária do País seja comandada por banqueiros e rentistas e o novo marco legal do saneamento básico, que entre outras questões, permite a exploração do serviço pela iniciativa privada.

O saneamento abarca uma gama ampla de serviços. Entram nesse escopo 4 tipos:

1) abastecimento de água potável;

2) coleta e tratamento de esgoto;

3) limpeza urbana; e

4) redução e reciclagem de lixo.

Segundo o secretário de Desenvolvimento da Infraestrutura do governo, Diogo Mac Cord, com a nova legislação será possível atrair R$ 700 bilhões em investimentos nos próximos anos e atingir a meta de universalização dos serviços de saneamento até 2033. Mas a que custo para o povo? Quem pode responder esta pergunta?

Como se vê, é a economia que interessa, o resto fica para outra hora. E tudo em nome e sob os interesses do mercado.

(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap

Fonte:sintracimento.org.br

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