Influência eleitoral de Bolsonaro “é zero”, diz presidente do Ibope
“Nenhuma liderança política vai conseguir convencer o eleitor a votar em um mau gestor”, diz Montenegro
O presidente Jair Bolsonaro não será um cabo eleitoral influente no pleito municipal de 2020, marcado para o próximo domingo (15). É o que avalia Carlos Augusto Montenegro, presidente do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope Inteligência). Questionado sobre o porquê de Bolsonaro não conseguir emplacar seus candidatos a prefeito, Montenegro descartou qualquer tipo de influência cruzada entre as eleições municipais deste ano e a disputa pelo governo central. Para ele, não é possível influir nos municípios, onde prevalece a aprovação de gestões locais.
“A influência do Bolsonaro é zero ou muito perto de zero. Nenhuma liderança política vai conseguir convencer o eleitor a votar em um mau gestor. Pode chegar lá Biden, Bolsonaro ou Lula, que não vai mudar nada”, disse. “Nos 5,8 mil municípios brasileiros, o eleitor vota no bom prefeito na cabeça dele. Os que fizeram boas gestões estão sendo reeleitos tranquilamente. Os que não fizeram, serão trocados.”
Para Montenegro, a pouca influência bolsonarista de Bolsonaro na disputa é horizontal em todo o país, mas com destaque nos grandes centros. “Bolsonaro está apoiando de forma muito contundente o Celso Russomanno (Republicanos) em São Paulo. A cada pesquisa o Russomanno cai mais, mas o Bolsonaro não cai. No Rio, ele está apoiando o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que há quatro meses está com 15% e uma rejeição alta.”
Em painel online organizado nesta terça-feira(10) pela Associação Comercial do Rio de Janeiro, Montenegro disse que um eventual voto útil na eleição para prefeito do Rio será em favor de Martha Rocha (PDT), a terceira colocada nas pesquisas. Com rejeição baixa (11%, segundo o Ibope), Martha teria boa chance de herdar os votos dos “candidatos menores”, avalia Montenegro. Em segundo nas sondagens, Crivella, o atual prefeito, estaria limitado pela rejeição de 58%.
“No Rio, se tiver voto útil, certamente vai para a Martha Rocha. Não seria para o Crivella ou Benedita (da Silva, do PT). Mas acho que o normal é cada um votar no candidato em que acredita no primeiro turno e depois se posicionar no segundo”, disse Montenegro.
Segundo ele, assim como Bruno Covas (PSDB) em São Paulo, Eduardo Paes (DEM) está virtualmente garantido na segunda etapa. Isso porque, a fim de indicar o número de eleitores indecisos, as pesquisas captam votos totais, e não votos válidos. Se fosse esse o parâmetro, diz ele, Paes estaria acima dos 40% nas medições.
No caso da capital paulista, a seu ver, o encolhimento de Russomanno permite afirmar que uma das vagas no segundo turno ficará entre Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB). A última semana de campanha na cidade deve ser mais decisiva do que em outras capitais. “O que é forte em São Paulo é a queda do Russomanno. Isso é brutal – e o termo ‘derretendo’ talvez seja o mais correto mesmo”, diz. “Essa queda vai fazer com que a disputa pelo segundo lugar fique entre Boulos e França.”
Pesquisas
O péssimo desempenho de Bolsonaro como puxador de votos é atestado pelas pesquisas eleitorais. Candidatos a prefeito apoiados explicitamente pelo presidente, de diferentes partidos, passaram a ser citados nominalmente por Bolsonaro em “lives” ou vídeos gravados, mas enfrentam dificuldades. Quem não apresenta tendência de queda está estagnado na disputa – e quase todos aparecem distantes do primeiro colocado.
O caso mais vistoso é o de Russomanno, que passou semanas como líder em São Paulo. Ele chegou a ter 29% num levantamento do Datafolha em setembro. No fim de outubro, recebeu apoio de Bolsonaro numa transmissão: “Estamos aqui com CR10, Celso Russomanno, em São Paulo. Eu conheço ele há muito tempo. Foi deputado federal comigo. E eu sou capitão do Exército, né? Ele é tenente R2 da Aeronáutica. Então, um capitão do Brasil e um tenente na Prefeitura de São Paulo. Celso Russomanno é minha pedida para São Paulo”.
Quando o vídeo foi divulgado, Russomanno já dava sinais de desgaste, mas ainda em empate técnico com Covas na liderança. Agora, no estudo mais recente, caiu para 12%. Está numericamente atrás de Boulos, com 13%, e pouco à frente de Márcio França, 10%.
No Rio, o apadrinhado é Crivella. Ao pedir voto a ele, Bolsonaro fez um discurso parecido com o usado para Russomanno: “Estou aqui com Crivella. Conheço ele há muito tempo. Foi deputado comigo, depois foi ser senador, prefeito do Rio”, disse, citando também que Crivella serviu no Exército. O prefeito tinha 14% numa pesquisa Ibope divulgada naquela semana, 18 pontos atrás de Eduardo Paes. Agora tem 15%, mas continua 18 pontos atrás de Paes. Com 14% e 9%, Martha Rocha e Benedita da Silva ameaçam crescer e deixar Crivella fora do segundo turno.
Bolsonaro abraçou candidatos nanicos em Belo Horizonte e Manaus. Nos dois casos, o apoio não pareceu surtir efeito. Já faz quase um mês que ele anunciou que o deputado estadual Bruno Engler (PRTB) terá “linha direta com a Presidência da República” se for eleito na capital mineira. Engler só oscilou de 2% para 4% desde então. Na capital do Amazonas, o escolhido é Coronel Menezes (Patriotas). Na última pesquisa Ibope, ele apareceu em sexto lugar, com 5%.
Outros dois adotados por Bolsonaro são Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, e Delegada Patrícia (Podemos), no Recife. Ambos apresentam tendência de queda nas pesquisas. Wagner – que era líder – agora está numericamente atrás de José Sarto (PDT), nome apoiado pelo grupo político do ex-ministro Ciro Gomes. Já Patrícia chegou a 16%, mas recuou para 12%, o que lhe coloca na quarta posição.
Bolsonaro deu sinais contraditórios sobre sua participação eleitoral. Em agosto, disse que não atuaria. “Decidi não participar, no 1º turno, nas eleições para prefeito. Tenho muito trabalho na Presidência e tal atividade tomaria todo o meu tempo num momento de pandemia e retomada na nossa economia”. No sábado, porém, anunciou que passaria a fazer “lives” diárias para apresentar os seus preferidos. Chamou isso de o “nosso horário eleitoral gratuito”.
Nos últimos dias, também pediu voto para oito candidatos a vereador; aos candidatos a prefeito Ivan Sartori (PSD), em Santos, e Mão Santa, em Parnaíba (PI); e ainda à candidata a senadora Coronel Fernanda (Patriotas) na eleição suplementar do Mato Grosso. Nesta terça, falando a um fã no Alvorada, já parecia estar se vacinando ante a possíveis derrotas: “Não vai ser um vídeo meu que vai mudar a situação de um candidato a prefeito. Eleição para presidente é bem diferente. Prefeito e governador é localizada, regionalizada”.
Com informações do Valor Econômico
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Disponível em: Vermelho – https://vermelho.org.br/2020/11/11/influencia-eleitoral-de-bolsonaro-e-zero-diz-presidente-do-ibope/
Fonte:sintracimento.org.br