Você hoje cuidando do seu amanhã
Não espere ajuda do governo ou da família, assuma a responsabilidade pelo seu futuro
Sabemos que é preciso poupar para o futuro. Dois argumentos para afirmar que isso deixou de ser desejável e passou a ser obrigatório: a perspectiva de vida mais longeva e alterações nas regras da aposentadoria social que virão, mais cedo ou mais tarde.
Então uma coisa é certa: todos precisamos poupar, hoje, parte da nossa renda para prover o nosso futuro. Isso é inegociável.
Para atingir esse objetivo, é necessário projetar nosso orçamento daqui a muitos anos.
Difícil, mas não tem outro jeito. Se não soubermos de quanto precisaremos para viver na aposentadoria, não saberemos quanto devemos poupar hoje para acumular recursos suficientes para nossa subsistência.
Definido o montante das despesas, com a melhor projeção possível, estime o montante de eventuais rendas: pensão do INSS, plano de previdência fechado, juros de investimentos, aluguéis de imóveis etc. A diferença entre entradas e saídas permitirá apurar a renda complementar necessária para fechar o caixa mensal projetado.
O exercício de planejar o futuro continua. Com que idade pretende se aposentar? Qual a expectativa de vida a partir da idade de aposentadoria? Qual será a rentabilidade real (descontada a inflação), líquida (descontados os custos e o imposto de renda), da nossa carteira de ativos, financeiros ou imobiliários?
São premissas de difícil definição, porém necessárias para calcular quanto devemos acumular na fase ativa para financiar a fase seguinte.
Nada como um bom exemplo para ajudar a entender o conceito. José tem 43 anos, é casado, tem dois filhos pré-adolescentes. Orçamento mensal atual de R$ 15 mil, que ele pretende manter para assegurar o mesmo padrão de vida. Estima que o aumento das despesas com saúde será compensado com a redução das despesas com educação dos filhos.
Calcula que precisará de uma renda de R$ 5.000 para complementar a aposentadoria. Pretende se aposentar aos 65 anos e tem expectativa de viver mais 30 anos a partir dessa idade. Com base no seu perfil conservador, entende ser adequado considerar taxa de juros real líquida de 3% ao ano, seja no período de acumulação (até 65 anos), seja no período de retiradas (dos 65 aos 95 anos).
Embora José tenha hoje certa reserva financeira, existem outros projetos de vida que pretende alcançar no curto e no médio prazo. Para o objetivo de aposentadoria, não há capital disponível e partiremos de zero.
Premissas definidas, calculadora financeira na mão, vamos aos números. Primeiro, vamos apurar que capital será necessário para permitir saques mensais de R$ 5.000 por 30 anos (360 meses). O prazo (n) = 360 meses; a taxa de juros (i) = 0,25 ao mês; retiradas mensais (PMT) = 5.000. Pressionamos a tecla PV (valor presente) e a calculadora responderá R$ 1.185.947.
Segundo cálculo, quanto José deverá investir por mês, pelos próximos 22 anos (264 meses), até os 65 anos, para acumular essa quantia? Voltamos à calculadora: o valor futuro (FV) = 1.185.947; o prazo (n) = 264; a taxa de juros (i) = 0,25. Pressionamos a tecla PMT para saber que a aplicação mensal será de R$ 2.965.
Se o orçamento de José permitir essa poupança, ótimo. Caso contrário, deverá considerar a hipótese de adiar um pouco a idade de aposentadoria e/ou reduzir as despesas atuais e abrir espaço no orçamento para alcançar esse objetivo.
Conhece a história do cobertor curto? Se cobrir com folga o presente, vai faltar dinheiro no futuro. Equilibrar e esticar o cobertor, desafio de todos.
Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: Folha de S.Paulo, 7 de agosto de 2018.
Fonte: sintracimento.org.br