Em Tempo: “A monocromática Sociedade Neomedieval”
Ao longo dos anos cinquenta até a primeira metade dos anos sessenta o modelo político e social americano expressava com toda a força a ascensão da democracia liberal em contraposição ao modelo social democrata europeu pós 2ª Guerra Mundial.
A indústria cinematográfica americana navegava pelos mares espalhando o glamour hollywoodiano e os feitos heroicos fabricados pelas vitórias dos aliados contra o nazifascismo e pelas vitórias parciais nas guerras da Coréia e do Vietnã. Neste período os soldados combatentes eram aclamados e viviam nos corações e mentes, não apenas das famílias americanas, mas em toda a sociedade ocidental, pois elegíamos o novo inimigo comum o Estado Soviético representando o temor ao domínio comunista.
O modelo reformista socialdemocrata inicia seu declínio a partir do final dos anos sessenta, em paralelo, ocorre o processo final da derrota americana no Vietnã.
No intervalo de tempo e da História Universal que precederam a queda do Muro de Berlim (1989) alguns fatos se somam e influenciam a Sociedade Americana:
1) a luta da juventude e segmentos sociais contra as guerras que estavam ceifando os jovens americanos,
2) o avanço das manifestações e inclusão dos negros e latinos no restrito mundo dos direitos da cidadania branca americana e, principalmente, e
3) esvaecimento, nos corações e mentes americanos, no recebimento e trato dos seus soldados que retornaram do Vietnã e de outras inserções militares que envolveram os Estados Unidos no Oriente Médio.
Neste cenário, pesou menos a disponibilidade de jovens americanos e mais as razões do uso da tecnologia bélica e a arregimentação de jovens latinos em busca do Green Card (Cartão de Residência Permanente nos Estados Unidos).
A marginalização social dos egressos do cenário final do Vietnã — na sua grande maioria com distúrbios psicossociais — a degradação dos velhos valores sociais e relacionados com a primazia branca, que passou a ser substituída por valores do primeiro milhão de dólares associados aos novos inimigos virtuais “cibernocinematográficos” transformam-se em estopins, no apagar das luzes do século 20, para a primeira geração dos serial killers, formada basicamente por combatentes psicologicamente comprometidos.
Comemoramos o iniciar do século 21 expondo e servindo como manjar dos deuses uma civilização ética e de moral bem-acabada e fundamentada em uma visão econômica, ideológica e religiosa monocromática. Vivemos, assim, o modelo Neoliberal implantando no período dominado por Thatcher, Reagan e Pinochet (1979-1990)
O avanço do desrespeito as diferenças humanas no campo da étnica, da religião, da culturais e a supremacia econômicas neoliberal, resultantes do declínio da socialdemocracia e do pós queda do Muro de Berlim, têm promovido no seio da Civilização Ocidental a disseminação da violência sócio política.
Contraditoriamente, a civilização moderna e bem-acabada está impondo para a humanidade um novo modelo de coletividade a “Sociedade Neomedieval” onde os seus fundamentos básicos são o Poder Financeiro, Religioso e Tecnológico.
A massificação de valores e a desumanização promovida pela tecnologia seja em termos de imagens e sons (jogos, vídeos e filmes) ou em termos de oportunidades humanas tem vitimado, principalmente, os jovens. Não seriam estes os elementos que serviram ou servem de argumentos para o assédio e engajamento de muitos jovens no exército do estado islâmico? É possível encontrar argumentos sustentáveis que ultrapassem os limites das frustrações psicossociais juvenis que motivem a segunda geração dos serial killers?
Superando as minhas emoções, observo que os dois jovens que promoveram o massacre de jovens em Suzano não seriam um reflexo desta sociedade massificante? Será que estamos livres de novas ocorrências aqui ou para o além fronteira? Acredito que este fato, como os outros anteriores, seve de estimulo para as novas ocorrências.
Podemos aliviar as nossas emoções culpando as famílias, os professores ou qualquer outro ser humano diretamente envolvidos com os jovens ou adultos psicossocialmente comprometidos. Mas libertamos das responsabilidades o modelo que estabelece a monocromática visão social, a minha resumida análise crítica as possíveis consequências de deste modelo ideológico “neomedieval” me levam a pontuar que não cabe para a sociedade brasileira um projeto que desrespeita a diversidade de pensamento, de comportamento e de estímulo a transformação social, elementos básicos da força motriz que move o desenvolvimento e a evolução coletiva da nossa juventude.
Reduzo, por assim dizer, a minha negativa a um projeto educacional que retira ou reduz a presença das Ciências Humanas no processo educacional brasileiro e repudio qualquer argumento neomedieval dos defensores da Escola Sem Partido.
Fonte:sintracimento.org.br