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Brasil ainda não enfrentou o pior da pandemia, afirma OMS

Agência diz que coronavírus ainda cresce com velocidade progressiva no país. Dr Marcos Boulos acredita que região metropolitana de São Paulo começa a reduzir velocidade da curva de contágio, mas muitos estados ainda verão explosão de casos.

O diretor-executivo da OMS e o infectologista brasileiro Marcos Boulos

O pior lado da pandemia de coronavírus ainda vai chegar ao Brasil, afirmou nesta segunda (1º) o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. Ele também não ousou prever quando este momento vai chegar.

Em entrevista ao portal Vermelho, o infectologista Marcos Boulos, que faz parte da força tarefa do Governo do Estado de São Paulo, comentou a preocupação da OMS, ressaltando que o Brasil está longe da cobertura da pandemia, porque começou bem depois da Europa. Ele calcula em dois meses e meio, três meses depois.

Mesmo assim, ele acredita que podemos estar chegando ao pico na região metropolitana de São Paulo. “Mas no país como um todo, começou bem depois, pois o início foi em São Paulo. Nós estivemos quase um mês à frente da maioria dos estados do Brasil, excetuando o Rio de Janeiro. Assim, estamos atingindo o pico, e vamos reverter gradativamente, mas muito lentamente”, diz ele.

Ryan também afirmou que a situação da pandemia na América do Sul está “longe de ser estável”, e que não acredita que a região tenha chegado ao pico da pandemia. Ele pediu solidariedade aos países da região, alertando os países que já estão com uma situação mais estável, que a segurança desses países mais pobres afeta a todos, pois o espectro do vírus continua a viajar pelo mundo.

Outro aspecto que justifica a percepção da OMS, na opinião de Boulos, a ponto dela falar em ajuda humanitária dos países ricos, é que, diferente da Europa, o Brasil [assim como a maioria dos países latino-americanos] “é muito mais pobre, com grandes bolsões de pobreza, de periferias onde as pessoas nem têm onde viver, não dá pra fazer confinamento. Isso de certa maneira agrava muito a situação”.

“Obviamente, se eles querem abrir fronteiras, não vão conseguir que os países da América Latina deixe de visitá-los”, analisa Boulos. Em sua opinião, não houve epidemias completas em muitos desses países, com um número pequeno de pessoas infectadas, até pelas quarentenas que promoveram. Por isso mesmo, são países sempre sujeitos à reinfecção e à reintrodução do vírus. O ideal para todos os países ricos é que eles fiquem próximos da remissão e voltem à normalidade.

“Embora os números não sejam exponenciais em alguns países”, diz o diretor da OMS, “estamos vendo um aumento progressivo diário dos casos. Ninguém está seguro até todos estarem seguros. Precisamos mostrar solidariedade aos países das Américas Central e do Sul, da mesma forma que fizemos com países de outras regiões. Estamos juntos e ninguém fica para trás”.

Ryan disse que o Brasil – além de outros países da América Central e do Sul – está entre aqueles que apresentam os maiores aumentos diários de casos da doença, sendo transmitido sem controle.

De acordo com o infectologista brasileiro, era de se esperar que o Brasil fosse epicentro da doença. “Porque nós estávamos no verão, eles estavam no inverno, a pleno vapor das doenças respiratórias. No país como um todo, vamos ter ainda uma situação muito difícil. Com momentos diferentes da evolução da epidemia”.

“Claramente, a situação em alguns países sul-americanos está longe da estabilidade. Houve um crescimento rápido dos casos e os sistemas de saúde estão sob pressão”, declarou o diretor-executivo. Ryan ainda afirmou que o pico do contágio se aproxima, mas “no momento não é possível prever quando chegará”.

Ele explicou que o Brasil e outros países ainda são ameaçados pelo vírus, que  pode causar um colapso em seus sistemas de saúde. 

Atualmente, o Brasil já ultrapassa rapidamente os 500 mil casos notificados de covid-19, perto do total de 30 mil mortos, sendo que, na semana passada, o país teve quatro dias seguidos com mais de mil óbitos diários.

Dos 10 países que reportaram mais casos nesse período, afirmou Ryan, cinco estavam nas Américas: Brasil, Estados Unidos, Peru, Chile e México. “Os países que tiveram os maiores aumentos, entretanto, foram Brasil, Colômbia, Chile, Peru, México, Bolívia”, disse.

Países com mais casos reportados à OMS entre 31/05 e 01/06

PAÍS

CASOS

Brasil

33.274

Estados Unidos

17.962

Rússia

9.035

Índia

8.392

Peru

7.386

Chile

4.830

Paquistão

2.964

México

2.885

Bangladesh

2.545

Irã

2.516

Fonte: OMS

“E nós estamos vendo um aumento progressivo de casos diariamente em vários países diferentes”, completou Ryan. “Os países têm tido que trabalhar muito, muito duro para entender a escala de infecção, mas, também, os sistemas de saúde estão começando a ficar sob pressão em toda a região”.

O diretor de emergências demonstrou preocupação em particular com o Haiti, “por causa da fraqueza inerente no sistema [de saúde]”, disse. “Existem outros países nas Américas em que os sistemas de saúde também são fracos”.

Ele pontuou, ainda, que há respostas diferentes à pandemia em cada país da região.

“Nós vemos muito bons exemplos de países que têm uma abordagem do governo inteiro, da sociedade inteira, baseada na ciência, e vemos em outras situações uma falta e uma fraqueza nisso”, disse.

“Há muitas semanas, o mundo estava muito preocupado com o que aconteceria no sul da Ásia ou na África, e, até certo ponto, a situação nesses dois cenários ainda é difícil, mas é estável. Claramente, a situação em muitos países da América do Sul está longe de ser estável. Houve um aumento rápido de casos e aqueles sistemas [de saúde] estão sofrendo cada vez mais pressão”, declarou.

Ele também falou de fatores como a pobreza urbana contribuírem para que a região seja a principal zona de transmissão do vírus hoje.

“Eu certamente descreveria que a América Central e a do Sul, em particular, com muita certeza se tornaram zonas de transmissão desse vírus hoje. E eu não acredito que chegamos ao pico dessa transmissão. E, neste momento, eu não posso prever quando vamos chegar”, completou.

“Mas o que nós precisamos, sim, fazer é mostrar solidariedade aos países da América Central e do Sul. Precisamos ficar com eles, fornecer o apoio que pudermos para ajudá-los a superar esse vírus, como fizemos coletivamente para países em outras regiões. Esse é o momento de ficarmos juntos e não deixar ninguém para trás”, disse.

Vermelho

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Fonte:sintracimento.org.br

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