Renda Brasil é oportunidade para Guedes organizar e limitar gastos sociais, dizem economistas
O aumento dessas despesas é considerado necessário para amortecer a piora do desemprego no país
Por Bruno Villas Bôas, Valor — Rio
A proposta do ministro Paulo Guedes de criar o programa “Renda Brasil”, que pretende unificar o Bolsa Família a outros programas do governo, pode ser uma oportunidade para organizar e colocar limites à expansão dos gastos sociais, diz José Julio Senna, economista da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
O aumento dessas despesas é considerado necessário para amortecer a piora do desemprego no país. Senna afirmou, porém, que o movimento no meio político é por mais aumento de gastos, a poucos meses das eleições municipais. O Congresso Nacional tem uma série de “projeto bomba” em termos de despesas.
“Acho que o Renda Brasil é um movimento defensivo do ministro da Economia, que captou esses sinais, que estou vendo. Por sua formação e plataforma de política econômica, deve estar assustadíssimo”, disse Senna. “Ele quer aproveitar para organizar e conter o ritmo de expansão dos gastos para o ano que vem”, disse.
Senna afirmou que a crise é grave e provoca forte alta do desemprego, que deve se recuperar muito lentamente. O auxílio emergencial de R$ 600 precisa ser prorrogado, mas “seguramente” em níveis mais baixos. “ Não dá para ficar dando apoio vida toda, não tem espaço fiscal para isso”, disse ele.
Desde o início de abril, quando teve início o pagamento do auxílio emergencial, cerca de 63,5 milhões de pessoas já receberam o crédito do governo, segundo balanço da Caixa Econômica Federal. Foram creditados até o momento de R$ 81,3 bilhões. O governo já anunciou o prolongamento do benefício, mas com valor inferior.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, acredita que o Renda Brasil pode ser uma oportunidade também de tornar os programas sociais do governo mais eficientes no gasto. Ela lembrou que parte do auxílio emergencial foi destinado por pessoas que não deveriam receber os recursos — como as famílias de classe média e média alta, que pediram o benefício.
“Cada real gasto precisa ser avaliado. É uma oportunidade para unir alguns programas e reavaliar. O abono salarial, por exemplo, não faz sentido atualmente e custa R$ 20 bilhões por ano”, disse a economista. “É uma oportunidade de incluir mais informações no Cadastro Único, para evitar mais fraudes”, disse ela.
(Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)
Fonte:sintracimento.org.br