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Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Ladrilhos Hidráulicos, Produtos de Cimento, Fibrocimento e Artefatos de Cimento Armado de Curitiba e Região

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Por que tudo está tão caro e quanto tempo vai durar?

A elevação dos preços da indústria, que em última instância afetarão o consumidor, é mais um indício no sentido de uma alta generalizada do custo de vida, que tem atingido em especial as classes mais baixas.

por Mariana Branco

A divulgação, nesta sexta-feira (30), do Índice de Preços ao Produtor (IPP) referente a setembro, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou uma elevação razoavelmente disseminada dos preços pagos por produtores da indústria extrativista e da transformação. O índice aumentou 2,37% em relação a agosto. Um total de 21 das 24 atividades pesquisadas registraram elevação de preços no mês passado.

Em agosto, o IPP havia aumentado 3,31%, com alta nos preços em todas as atividades pesquisadas. No ano, o índice acumula alta de 13,46%, e em 12 meses, de 15,89%. O indicador é calculado na “porta da fábrica”, sem levar em conta custos de imposto e frete.

A elevação dos preços da indústria, que em última instância afetarão o consumidor, é mais um indício no sentido de uma alta generalizada do custo de vida, que tem atingido em especial as classes mais baixas.

Segundo o economista Marco Rocha, da Unicamp, a alta perpassa produtos com processos distintos de formação de preços, desde itens cujo valor é formado internamente até outros cujo preço é influenciado por fatores externos. Por isso mesmo, é difícil apontar um motivo único para o fenômeno. A desvalorização do real, a dinâmica das commodities, o comportamento da demanda interna e as incertezas quanto à pandemia da Covid-19 e seus efeitos na economia são algumas das possíveis razões.

“O dólar puxou um pouco, teve uma pressão cambial. Além disso, os preços das commodities [produtos não-industrializados com cotação internacional] estavam subindo puxados pelo crescimento da China. Começaram a se recuperar a um ritmo mais forte a partir de agosto e, do mês passado para cá, diminuiu um pouco. Muitas commodities são insumos industriais, então afetam o preço das mercadorias industriais. Também teve uma certa recuperação da demanda interna devido ao auxílio emergencial e isso elevou os preços de alguns insumos, como na construção civil”, afirma.

O economista acredita ainda que o setor industrial vê-se em um momento de decisões difíceis sobre produção e estoques, o que também acaba influenciando os preços. A pandemia não está resolvida no Brasil, não se sabe os efeitos da segunda onda sobre a economia global e existe uma consciência de que a recuperação da demanda proporcionada pelos meses de pagamento do auxílio emergencial é uma situação temporária.

“Você teve uma paralisação da produção industrial muito abrupta, por causa da pandemia. Você teve retomada da demanda no curto prazo de forma intensa, por causa do auxílio. Mas a indústria sabe que isso tem fôlego curto e, por isso, está demorando para reagir em termos de oferta. Há uma incerteza muito grande sobre o que vai acontecer em 2021. A gente está tendo uma demora do setor industrial em reagir diante de tanta incerteza”, comenta.

Rocha avalia o movimento de encarecimento como um choque temporário, mas que se desdobrará ainda por alguns meses e pode provocar efeitos cruéis sobre a população, principalmente em um cenário com perspectiva de aumento do desemprego e fim do pagamento do auxílio emergencial.

Segundo ele, a alta dos preços industriais registrada para setembro, por exemplo, deve chegar ao consumidor final somente no fim deste ano. “Você tem um tempo para o repasse de preço final. Esses custos devem chegar para o consumidor lá para o mês que vem, para dezembro”, diz. Além disso, diz, a alta acumulada deste ano influenciará os índices de preços que são referência para reajustes a serem aplicados ainda em 2021.

“É preciso entender que a alta desses índices de preços afetam a formação de outros preços do ano que vem. O aluguel é reajustado, de forma geral, pelo IGP-M, que é muito atrelado ao preço das commodities e a alguns preços de atacado que são influenciados pela taxa de câmbio. Ainda vai dar um repique”, prevê. Segundo ele, a situação continuará dramática nos meses finais deste ano e pelo menos nos meses iniciais de 2021.

“Você pode ter, nos próximos meses, um processo de inflação em certas categorias de bens, como os preços de bens administrados, o que pode afetar o poder de compra de determinadas classes. Você teria um aumento significativo de custos de certos bens. Pode criar um cenário bem drástico, bem dramático. Pode ter um processo no final deste ano, início do ano que vem, de aumento de custo de vida no geral, muito concentrado nas classes mais baixas. É um movimento que vai se juntar, ainda, a um processo de aumento de desemprego”, alerta.

O que fazer?

Há alguma maneira de mitigar esses efeitos? Segundo Marco Rocha, um meio seria o Banco Central atuar mais agressivamente para controlar o dólar. O BC tem realizado leilões da moeda norte-americana, mas que têm apenas efeito paliativo, de evitar uma disparada rápida demais que prejudique negócios e contratos.

“Há alguns economistas, de lados teóricos muito distintos, defendendo um aumento da taxa de juros [Selic, a taxa básica, que influencia os demais juros da economia] para segurar o aumento da taxa de câmbio, o que seria uma forma de mitigar esses preços, já que muitos são atrelados ao dólar”, afirma Rocha. Quando os juros de um país estão baixos, como é o caso agora no Brasil, investidores tendem a procurar mercados mais vantajosos, tornando o dólar mais escasso e mais caro. Assim, elevar os juros seria um caminho a curto prazo para segurar esses investimentos e valorizar o real.

Nesta semana mesmo, no entanto, o Banco Central decidiu manter a taxa Selic nos atuais 2% ao ano. A autoridade monetária afirmou que monitora “com atenção” a inflação, mas vê a alta generalizada de preços como um choque temporário. Ou seja, o BC sinalizou que vai aguardar uma acomodação.

Por parte do governo federal, também não há qualquer política mais contundente para buscar uma normalização no curto prazo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, por enquanto, limitou-se a zerar o imposto de importação do arroz – um dos produtos que mais tiveram alta – o que por enquanto não surtiu efeito. Nem deve surtir. Afinal, de que adianta cortar impostos se o grão será importado com o dólar a R$ 5,80?

A depender do atual governo, portanto, tudo indica que o brasileiro ainda terá tempos difíceis pela frente.

Fonte: Vermelho

Fonte:sintracimento.org.br

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