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Vaza-Jato desmascara Moro e a mídia, por Altamiro Borges

Há muito tempo já se sabia que a midiática Operação Lava-Jato, com toda sua seletividade e seus abusos de autoridade, não tinha como objetivo combater a corrupção – como a mídia falsamente moralista alardeava para milhões de “midiotas”. Seu intento era eminentemente político em um contexto de guerra híbrida para assaltar o poder.

Ilustração: Ferrugem

 

Na essência, a judicialização da política visava derrubar governos democrático-populares, com seu reformismo brando e seu republicanismo ingênuo. Essa manobra resultou no golpe do impeachment de Dilma Rousseff, na prisão política do ex-presidente Lula, na breve ascensão da gangue de Michel Temer e no avanço do neofascismo no país, com a corrompida eleição do miliciano Jair Messias Bolsonaro em 2018. 



Desde 9 de julho de 2019, porém, o que já era convicção das forças mais críticas da sociedade ganhou provas irrefutáveis com as revelações do site “The Intercept”. O vazamento das mensagens trocadas pelo Telegram entre Sergio Moro, o ex-juiz que ganhou de presente um cargo no laranjal bolsonariano, Deltan Dallagnol, o lobista do PowerPoint, e outros farsantes do Judiciário confirmou os crimes de abuso de autoridade e várias sujeiras cometidas pela famigerada República de Curitiba. A bombástica “Vaza-Jato” evidenciou a existência do conluio entre o falso juiz e os falsos procuradores, que formaram uma quadrilha com objetivos políticos e mercenários e estupraram a jovem democracia brasileira impondo um típico Estado de Exceção no Brasil. 



O escândalo, já tratado por vários veículos da imprensa internacional como um dos piores crimes judiciais da história recente, não produziu de imediato maiores abalos no Brasil. Se o país não estivesse submetido a um novo tipo de ditadura, Sergio Moro seria defenestrado do governo, processado e execrado pela sociedade; já Deltan Dallagnol seria preso por sua ação de lobista; e a própria eleição de Jair Bolsonaro, que se baseou nas truculências e ilegalidades da Lava-Jato, sofreria questionamentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas nada disso ocorreu até agora, o que pode ser debitado mais uma vez na conta da imprensa golpista do Brasil. 



Emissoras de tevê e rádio, jornais, revistas e sites da mídia monopolista – tendo à frente o Grupo Globo com sua propriedade cruzada no setor – tiveram papel decisivo na projeção de Sergio Moro e de seus capachos do Ministério Público Federal. Esses veículos nunca questionaram os crimes cometidos pela Lava-Jato, apesar da abundância de ações ilegais e truculentas contrárias à Constituição e ao Direito. Derrotado quatro vezes nas urnas, o Partido da Imprensa Golpista (PIG) – como ficou conhecido através da irreverência do saudoso Paulo Henrique Amorim – não vacilou em se unir ao Partido da Lava-Jato (PLJ) para desfechar o golpe parlamentar-judicial-midiático no Brasil, a exemplo do que já havia ocorrido com sucesso em Honduras e no Paraguai. 



A chegada ao poder de Jair Bolsonaro – com os seus milicianos laranjas, milicos rancorosos, fundamentalistas neopentecostais e filósofos de orifício, entre outros dejetos – não estava nos planos originais da mídia feudal, em especial da Rede Globo. Com sua escandalização da política e a criminalização das forças de esquerda, ela ajudou a chocar o ovo da serpente fascista, mas pretendia uma saída mais segura e tranquila. A eleição gerou um cenário esquizofrênico. Toda a mídia monopolista apoia a agenda econômica ultraneoliberal liderada pelo abutre Paulo Guedes; mas parte dela discorda do conservadorismo nos costumes e teme o autoritarismo na política do governo. Essa maluquice também se expressa diante das bombásticas revelações da Vaza-Jato. 



As emissoras de tevê, que projetaram Sergio Moro como “herói nacional”, seguem blindando o “marreco de Maringá”. Receiam que seu desmoronamento prejudique o projeto de poder que tomou de assalto o Palácio do Planalto. Também temem que os vazamentos comprovem o conluio das “celebridades” midiáticas com os fascistas de toga contra a democracia nativa. O renomado jornalista Glenn Greenwald, criador do Intercept, já sinalizou que tem provas da “parceria da Globo” nos crimes da Lava-Jato. Essa ligação incestuosa explica a omissão da TV Globo (aberta), da Globo News (assinante) e da rádio CBN na cobertura da Vaza-Jato. Outros canais – como o SBT (Sistema Bolsonarista de TV), do “topa tudo por dinheiro” Silvio Santos, e a Record, do “mercador da fé” Edir Macedo – são ainda mais descarados e amadores no apoio ao “justiceiro” Sergio Moro. 



Já os jornais impressos, que afundam na crise e hoje não tem tanto poder na formação da “opinião pública”, estão divididos na cobertura. Segundo pesquisa diária do site Manchetômetro, produzida pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Estadão e O Globo tentam desqualificar os vazamentos, evitam o contraditório em suas páginas e protegem o miliciano que ocupa o cargo de ministro da Justiça do fascistoide Jair Bolsonaro. Já a Folha, talvez por motivos mercadológicos, fez parceria com o Intercept e adotou uma linha editorial mais crítica diante dos crimes de Sergio Moro. Entre as revistas, CartaCapital sempre denunciou os abusos da República de Curitiba. A Veja, famosa por sua postura ultradireitista, surpreendeu ao firmar parceria na difusão da Vaza-Jato. Já a IstoÉ – ou QuantoÉ – não conta! 



Mas a cumplicidade de parte da mídia com a Lava-Jato pode ainda sofrer alterações com o recrudescimento da postura autoritária do governo. Diante da gravidade dos vazamentos publicados pelo site The Intercept – mas também pelos jornais Folha de S.Paulo e Correio Braziliense, pela revista “Veja” e pelo blogueiro tucano Reinaldo Azevedo –, o vaidoso Sergio Moro viu sua popularidade derreter, o que o transformou em um mero miliciano no laranjal de Jair Bolsonaro. Com o abalo da falsa imagem de ético, fabricada pela mídia udenista, o “marreco de Maringá” tira de vez a máscara e assume seu DNA fascista – já expressos nos abusos impostos como “juiz” punitivista ou no seu pacote anticrime, da “licença para matar”, como ministro da Justiça. 



A portaria 666, número da Besta, baixada diabolicamente por Sergio Moro, confirma todos os temores sobre o risco de uma ditadura de novo tipo no Brasil – com censura, perseguições aos jornalistas e ataques mortais à liberdade de expressão. Apesar dos desmentidos, ela tem como alvo evidente o jornalista Glenn Greenwald, de origem estadunidense, abrindo brecha legal para sua deportação e criando um clima de terror e medo nas redações da imprensa. Mesmo veículos que tentaram desqualificar os vazamentos do Intercept, deixando de lado seu conteúdo bombástico e atacando os “hackers” – que antes eram russos, agentes de Vladimir Putin, e que depois foram descobertos em Araraquara (SP), talvez sejam levados a repassar as suas manipulações. 



A conferir!





 

*Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.





Artigo que compõe o livro "Relações obscenas", previsto para ser lançado em setembro.



 

 
 

Fonte:sintracimento.org.br

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