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O fiasco em Davos e os riscos para nossa economia

"O fracasso da participação da comitiva brasileira em Davos não foi a única péssima notícia para o governo que promete ampliar as fronteiras do seu comércio internacional". 





Por Wadson Ribeiro*

Foto: Christian Clavadestcher

 

Ele me dá medo. O Brasil é um grande país. Merece alguém melhor”, resumiu Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia. “Grande fracasso. Ele tinha o mundo inteiro o assistindo e o melhor que conseguiu dizer foi para as pessoas passarem férias no Brasil”, twittou Heather Long, jornalista chefe de economia do jornal americano Washington Post. Estas são apenas algumas das reações que expressam como o mundo reagiu ao discurso de Jair Bolsonaro na abertura do Fórum Econômico Mundial, que completou sua 40a edição em Davos, na Suíça.



Uma grande oportunidade se abriu para o presidente brasileiro apresentar o país aos investidores internacionais. Graças às ausências dos governantes das principais economias, surgiu a possibilidade do Brasil ocupar o protagonismo da cena. Ele foi o primeiro presidente do hemisfério sul, da América Latina e fora do G7 a abrir o evento.



Bolsonaro tinha ao seu dispor 45 minutos de fala, mas preferiu usar apenas 7, que somados ao tempo usado para responder algumas perguntas de Klaus Schwab, fundador do fórum, apresentou 15 minutos de um vexame internacional. Parece que Bolsonaro optou pelo seguinte raciocínio: quanto menos falasse, menos bobagem seria dita. Mas não teve jeito, o vazio de suas palavras fez o mundo conhecer melhor o bizarro presidente eleito pra governar uma das maiores economias do globo.



O fracasso da participação da comitiva brasileira em Davos não foi a única péssima notícia para o governo que promete ampliar as fronteiras do seu comércio internacional. A Arábia Saudita anunciou a suspensão da importação de carne de frango enviados por frigoríficos brasileiros. O impacto da medida tem grande significado. Aquele país é o que mais importa este tipo de proteína animal e é o nosso principal parceiro comercial no Oriente Médio. Sua atitude pode ser um primeiro sinal de retaliação da comunidade árabe à pretensão anunciada por Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém.



Quando exerci o mandato de deputado federal, tive a honra de ser presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes. Ali, pude acompanhar de perto as amistosas e exitosas relações do nosso país com aquele povo. Vale lembrar que o Brasil abriga em seu território uma das mais populosas comunidades de origem árabe. Tudo pode ruir em função de uma transferência de embaixada que contraria resoluções da ONU. A irresponsável e tosca iniciativa tem como único objetivo demonstrar subserviência ao destrambelhado presidente americano, Donald Trump. Se concretizada, o Brasil se tornará o terceiro país, depois e da Guatemala e do próprio Estados Unidos a tomar a decisão.



As trapalhadas diplomáticas e comerciais não se restringem aos países árabes. Estão ameaçadas as relações com nosso principal parceiro comercial, a poderosa China. O presidente da CCIBC (Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China), Charles Andrew Tang, acaba de alertar que “a China só investe onde é bem-vinda. O Brasil precisa desses investimentos e deve ter muito cuidado, se isso continuar o país vai sofrer”. A frase do empresário chinês, foi dita como reação ao discurso anti-China proferido pelo presidente brasileiro e seus auxiliares.



Em Davos, das poucas palavras que disse, Bolsonaro prometeu uma espécie de “desideologização” das relações econômicas. Mas o que pratica é justamente o contrário. Suas promessas e ações causam sérios estragos na imagem da reconhecida tradição diplomática ponderada do Itamaraty e podem trazer ainda mais estragos na já combalida economia brasileira. 

 

*Wadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e foi presidente da União nacional dos Estudantes (UNE)



Fonte: Hoje em Dia

 

Fonte: sintracimento.org.br

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