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Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Ladrilhos Hidráulicos, Produtos de Cimento, Fibrocimento e Artefatos de Cimento Armado de Curitiba e Região

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Um país de morte

Brasil tem números aberrantes de perversão social e acredita em soluções de papel

 

Quase todo morticínio brasileiro tem firma reconhecida. Até no assassinato em massa somos cartoriais, por assim dizer. Depois de uma desgraça, costuma aparecer um documento qualquer, a prova do descaso homicida, que, no entanto, apodreceu em uma gaveta da burocracia. Nada se fez.

Por vezes, se descobre em empresas um email que registra gambiarras mortais ou propina para abafar risco de mortandades. Ou, então, apresentam-se laudos de fancaria ou um papelório santarrão sobre "responsabilidade social", "valores", cinismos para camuflar negligências criminosas.

Está aí a tristeza infinita dos horrores no Flamengo ou na Vale da morte para demonstrar o caso.

É um país em que jacus ignaros, autoritários e populistas fazem propaganda do endurecimento de penas para assassinos. Mas não tomam atitudes para fazer com que o Estado saiba por onde andam os criminosos e os prenda, quando não contratam milicianos. São marqueteiros da letra morta da lei no papel.

Apenas 2% ou 5% ou 8% dos homicídios são esclarecidos (sim, os números são vários porque nem sabemos direito o que não sabemos). Mesmo que a cana dura tenha efeito dissuasivo, no nosso caso isso é irrelevante, pois a expectativa de cumprimento de pena é mínima.

 

É um país de papel. "Na minha pátria/ Onde os mortos caminhavam/ E os vivos eram feitos de cartão", versos de Ezra Pound, que também não valia nada, mas escreveu grandes poemas. Por que a gente é assim?

Causa tédio escarninho ouvir que "o problema do Brasil é a impunidade". Está bem, cidadão. O que causa impunidade contínua? Além do mais, o cidadão sabe aí qual a relação entre taxas de punição e correição?

É uma pergunta retórica sarcástica para esse argumento que, assim posto, é bobagem de botequim ou, hoje em dia, de Twitter e redes insociáveis.

O problema é sempre mais enrolado. Cana dura pode ajudar, mas o nosso ambiente social e politicamente tóxico continua.

Em 2012, foram condenadas duas dúzias de mensaleiros, "julgamento histórico", "fim da impunidade". Foi o mesmo ano em que o investimento da Odebrecht em suborno chegava ao máximo (como proporção do faturamento).

Em 2014, com Lava Jato e com tudo, a despesa odebrechtiana com propina não era muito menor. Em 2015, Eduardo Cunha era eleito presidente da Câmara. Etc.

O que é possível suspeitar, com evidências importantes, é que o Brasil é especialmente violento, disfuncional e desigual; ainda mais aberrante se considerado seu nível de renda.

A taxa de homicídio por aqui está entre as dez maiores do mundo. A terceira, se tiramos da lista micropaíses incomparáveis (Santa Lúcia, Ilhas Virgens, El Salvador, por exemplo). São dados das Estatísticas Internacionais da ONU sobre Drogas e Crime, 2016.

O Brasil é um dos dez países de maior desigualdade de renda (o quarto, pelo índice de Gini, segundo estatísticas compiladas pelo Banco Mundial, dados do entorno de 2015).

A taxa real de juros bancários é uma das três maiores do mundo (dados do FMI deflacionados pelo Banco Mundial, 2017).

No caso da taxa de mortes por acidentes de trânsito, estamos em 131º lugar (taxa relativa apenas ao tamanho da população, para 2013, dados da Organização Mundial da Saúde). Isto é, há 130 países mais pacíficos. Sim, há 59 países ainda piores que o Brasil, mas quase todos no extremo da miséria e da falta de infraestrutura.

Em aspectos vitais, o Brasil é uma aberração perversa.

 
Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

 

Folha de S.Paulo

 

Fonte: sintracimento.org.br

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