Amarelo-golpista
Sob o beneplácito do presidente da República, a cor da moda em nichos da veneração bolsonarista é o amarelo-golpista. Combinada ao verde-ódio, a onda retrô patrocina aglomerações em plena epidemia mortal, emprega violência e incita à ruptura do regime democrático.
Seus primeiros modelos se exibiram acoplados a movimentos que pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2015 e 2016. Outro desfile, mais desavergonhado, ocorreu no cerco à população brasileira promovido por caminhoneiros em maio de 2018.
Após a vitória de Jair Bolsonaro, os tons da boçalidade passaram a adornar gabinetes do Executivo federal e chegaram ao Planalto. A longa trajetória do eleito como deputado federal não deixava dúvidas sobre suas inclinações autoritárias e seu desprezo pelos princípios norteadores do pacto de 1988.
Uma vez eleito, não negou sua própria biografia. Pior, a caneta na mão deu vazão ao irascível e incapaz chefe de Estado para criar uma série de crises. O exemplo mais recente de uma lista imensa é a incapacidade de liderar o país no momento em que o Brasil e o mundo passam pelo maior desafio sanitário e econômico de uma geração.
O erro crasso de Bolsonaro ao menosprezar o impacto da pandemia na saúde transformou o que era uma relação difícil com os demais atores institucionais num conflito aberto. O presidente se colocou quase na condição de pária mundial e talvez por isso se aproximou mais da militância lunática.
Que não reste dúvida sobre quem é a parte fraca —Bolsonaro— e quem é a forte —a arquitetura institucional que o contém— nesse embate. Ainda assim, cabe aos fiscais da lei investigarem quem está por trás de movimentos conspiratórios, mesmo que partam de nichos aparentemente exóticos, o que é apenas parcialmente verdade quando examinadas algumas conexões dos agitadores da baderna.
Detectaram-se pessoas próximas a quem exerce mandato em relação com aparelhos, como um tal “300 do Brasil”, que organizaram atos antidemocráticos. Investigam-se deputados sob suspeita de envolvimento em tramas contra a ordem constitucional, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso.
No Conselho de Ética da Câmara, adormece representação contra o deputado Eduardo Bolsonaro, por cogitar a repetição de uma medida como o AI-5, que em 1968 fechou o Congresso e esmagou o que restava de liberdades individuais.
Tais movimentos golpistas, que um dia se deram nas franjas distantes do poder de Estado, hoje excitam a predisposição de quem está na Presidência. Que o Judiciário e o Legislativo descubram quem segura as cordas a mover as marionetes de camisa amarela.
Folha de S.Paulo
Fonte:sintracimento.org.br