Benefícios e desafios da IA na Justiça do Trabalho
Rômulo Felipe Reis Miron
A IA na Justiça do Trabalho agiliza processos, mas pode comprometer a análise humana. O equilíbrio entre tecnologia e sensibilidade é essencial para decisões justas.
A Justiça do Trabalho brasileira está passando por uma transformação significativa com a adoção de ferramentas de IA – Inteligência Artificial, como o Chat JT. Essa inovação, lançada pelo CSJT – Conselho Superior da Justiça do Trabalho, visa auxiliar profissionais do Judiciário em suas rotinas diárias, oferecendo suporte para consultas processuais, emissão de pareceres técnicos e até mesmo na elaboração de decisões. No entanto, como qualquer tecnologia inovadora, a IA traz consigo tanto benefícios quanto desafios que merecem ser analisados com cuidado.
Com mais de 11 mil profissionais já cadastrados no Chat JT, o que representa cerca de 25% dos profissionais que integram o Judiciário Trabalhista em todo o país, segundo o CSJT, a ferramenta pode reduzir o tempo gasto na análise de casos repetitivos ou de menor complexidade. Isso pode diminuir os custos operacionais e acelerar a tramitação dos processos.
No entanto, embora a IA seja eficiente para tarefas repetitivas e consultas simples, ela pode não ser capaz de lidar com casos complexos que exigem análise profunda e contextualizada. O uso excessivo dessa tecnologia pode resultar em decisões superficiais, baseadas apenas em dados quantitativos, sem considerar os aspectos subjetivos de cada caso, como o contexto social ou econômico das partes envolvidas.
A Justiça do Trabalho lida diretamente com conflitos humanos, frequentemente marcados por aspectos emocionais e sociais. A dependência excessiva de ferramentas de IA pode desvalorizar as habilidades analíticas e críticas dos servidores e magistrados, além de contribuir para uma possível desumanização do processo judicial, onde as partes envolvidas seriam tratadas como meros números. Se utilizada de forma indiscriminada, a IA pode incentivar uma abordagem de “copiar e colar” em decisões judiciais, comprometendo a qualidade e a individualização das decisões.
Outro desafio é o risco de redução da interação humana no ambiente jurídico. Com a automação de tarefas, magistrados podem priorizar a eficiência em detrimento do diálogo e da compreensão empática das partes envolvidas, elementos essenciais em questões sensíveis como os direitos trabalhistas.
A implementação de IA na Justiça do Trabalho, como o Chat JT, traz benefícios significativos, especialmente em termos de eficiência e agilidade. Contudo, é fundamental reconhecer os desafios associados a essa tecnologia, como o risco de decisões superficiais e a possível desumanização do processo judicial. A IA deve ser vista como uma ferramenta complementar, e não como um substituto para as habilidades, a sensibilidade e o julgamento humano dos profissionais do Judiciário. O equilíbrio entre o uso da tecnologia e a humanização dos processos será essencial para garantir que a Justiça do Trabalho continue a cumprir seu papel de forma justa e eficiente.
Rômulo Felipe Reis Miron
Advogado no escritório Ferraz dos Passos Advocacia e Consultoria. Pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa – IDP.
MIGALHAS
https://www.migalhas.com.br/depeso/426132/beneficios-e-desafios-da-ia-na-justica-do-trabalho
Fonte:sintracimento.org.br