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Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Ladrilhos Hidráulicos, Produtos de Cimento, Fibrocimento e Artefatos de Cimento Armado de Curitiba e Região

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O futuro da IA e o seu impacto no conhecimento: mudará a forma como pensamos?

inteligência artificial é a primeira invenção humana capaz de tomar decisões por conta própria e produzir novas ideias. Isto abre uma enorme série de possibilidades e interrogações ligadas às tarefas cognitivas que poderia substituir nos ambientes de trabalho e educacionais.

A reportagem é de Dylan Resnik, publicada originalmente em Página/12, 30-10-2024. A tradução é do Cepat.

A inteligência artificial já aparece como mais uma ferramenta no cotidiano das pessoas. Desde o seu surgimento popular, há apenas dois anos com o famoso ChatGPT, esse desenvolvimento cresceu de forma exponencial e está presente nos celulares, no trabalho, nas salas de aula e até nas galerias de arte. Mas a IA não é apenas mais uma ferramenta, como explica no seu último livro, Nexus, o historiador israelense Yuval Noah Harari. O autor afirma que embora nem todos possam ser especialistas em inteligência artificial, todos devem ter em mente que esta “é a primeira tecnologia da história que pode tomar decisões e gerar autonomamente novas ideias”.

Harari diz que até agora toda decisão sobre o uso de uma ferramenta recaía sobre o ser humano. “As facas e as bombas não decidem por si mesmas quem matar”, esclarece. Mas a IA pode avançar neste tipo de decisões. E não é preciso ir a um cenário de guerra para ver isso acontecendo: pode decidir, por exemplo, quais são os dados mais importantes de um documento ao resumi-lo ou quais palavras usar para preencher um formulário.

Neste cenário, aparece uma enxurrada de perguntas sobre o futuro. Consultado pelo Página/12, um grupo de especialistas em IA respondeu a uma delas: pode a inteligência artificial mudar a forma como os humanos pensam, aprendem e produzem novos conhecimentos?

Deixe a IA responder

Carolina Tramallino é professora associada de Linguística Geral na Faculdade de Humanidades e Letras da Universidade Nacional de Rosário e pesquisadora do Conicet no IRICE (Instituto Rosario de Investigaciones en Ciencias de la Educación). Suas publicações concentram-se na área da linguística computacional e da inteligência artificial. A partir daí fez uma série de artigos nos quais investiga como os estudantes universitários utilizam a IA em suas carreiras acadêmicas. Em uma publicação que fez na revista TE&ET, revelou que 90% dos alunos entrevistados afirmaram ter utilizado o ChatGPT em ambientes educacionais para tirar dúvidas relacionadas aos temas de estudo, estruturar textos, gerar ideias, escrever correios eletrônicos ou fazer correções de redação.

Fernando Juca Maldonado, professor da área de tecnologia da Universidade Metropolitana, campus Machala, no Equador, publicou uma pesquisa semelhante onde revelou que, do total de 247 estudantes pesquisados, apenas 12% não estavam familiarizados com a IA. Os próprios alunos reconheceram que utilizam esta ferramenta para responder questionários (18%), gerar ideias (14%), analisar informações (14%), resumir conteúdo (10%) e gerar conteúdo (8%), entre outras funções.

O fato de a IA estar instalada como mais uma ferramenta nesses espaços-chave de ensino e produção de conhecimento é uma realidade. Agora temos que nos perguntar quais serão as consequências disso a longo prazo.

A IA e as tarefas cognitivas

“A tecnologia, pelo menos desde a Revolução Industrial, sempre substituiu trabalho humano. Durante muito tempo, o que a tecnologia substituía, inclusive a máquina a vapor, era o trabalho físico, a energia humana”, explicou Mariano Zukerfeld, doutor em Ciências Sociais, pesquisador do Conicet e integrante da Equipe de Estudos sobre Tecnologia, Capitalismo e Sociedade.

O cenário mudou com o surgimento do capitalismo digital, que teve uma primeira fase, que vai de meados da década de 1970 até 2010, e uma segunda fase, que vai até hoje, caracterizada pelas plataformas e a IA. “Na primeira fase, começaram a ser substituídas tarefas cognitivas rotineiras, por exemplo, o que faz um processador de texto ou uma planilha de cálculo. O mesmo acontece com relação às tarefas manuais rotineiras: a robótica começou a substituir as tarefas físicas”.

“A novidade desde 2005 é que também as tarefas cognitivas não rotineiras começam a ser substituídas. Por exemplo, as tarefas criativas, que eram consideradas reservadas ao ser humano porque tinham um caráter de inovação, algo que era de criação. Essas tarefas começaram a ser realizadas de forma silenciosa, discutível, mas agora de forma muito visível e assumida pelos algoritmos”, explicou.

Um exemplo claro disso está associado às notícias dos últimos dias: o robô Ai-Da, um humanoide dotado de inteligência artificial, caracterizado por um corpo humano e braços mecânicos, fez uma obra que será leiloada no dia 31 de outubro pelo preço inicial de 130 mil dólares.

A coevolução do pensamento

Por sua vez, Ricardo Andrade, licenciado em Letras, filósofo da tecnologia e bolsista do Conicet, explicou a este jornal que o surgimento da IA implica efetivamente um “grande desafio no âmbito educativo e em relação aos problemas filosóficos e sociológicos”. No entanto, considerou que esta substituição não precisa ser necessariamente algo negativo.

“Eu não falaria diretamente de uma perda de criatividade. Haverá antes uma mudança em termos de coevolução. Por quê? Porque à medida que a inteligência artificial se aperfeiçoa, pode fornecer-nos ferramentas para explorar o conhecimento com maior detalhe e processar informações que, sem a sua ajuda, seria muito difícil ter progresso”, afirmou.

E acrescentou: “Seria importante nos apropriarmos desta conquista tecnológica para pensar como esse processamento da informação pode oferecer ferramentas para compreender e abordar a realidade através do conhecimento. Neste sentido, a tecnologia e a inteligência artificial modificarão nossos comportamentos e a forma como produzimos conhecimento, pois teremos que pensar a partir do que essas ferramentas desenvolvem. Assim, surge a tensão coevolutiva”.

Dúvidas e desafios

Tramallino considerou, após estudar o tema em ambientes universitários, que “é preciso alfabetizar para fornecer ferramentas que estejam relacionadas à seleção da informação, para poder discernir a qualidade dos dados e para exercitar habilidades de inteligência linguística” diante do progresso das ferramentas generativas. “O problema é que podemos perder todas as reflexões metalinguísticas que envolvem a ativação de conhecimentos. Como, por exemplo, pensar em qual sinônimo posso escolher para uma palavra, fazer todas as associações de sentido e pensar em como posso dizer a mesma ideia com outras palavras”, disse.

“A leitura envolve uma interação com o texto. Quando leio, construo um significado que é resultado de uma confluência entre o sujeito, o texto e os fatores contextuais. Neste caso, não há sujeito. Não há um enunciador nas respostas da IA, não há um sujeito que se apropria da linguagem. Falta-nos todo esse contexto de produção”, afirmou sobre o uso dessas ferramentas em ambientes educacionais e alertou sobre a falsa sensação de objetividade que esses programas podem proporcionar.

Sobre este ponto da objetividade, esclareceu: “O perigo reside em que se cria o efeito ilusório de uma objetividade. É um texto que não é atravessado pela própria leitura. Podemos cair no perigo de acreditar que a ciência é simples e objetiva nesse afã de querer dar uma resposta. O preocupante é que nos impede de ter noção dos diferentes pontos de vista quando o mais importante é conseguir gerar pensamento crítico. Perde-se a capacidade crítica do estudante, que começa pela gestão da informação, seguida pela compreensão da leitura”.

Juca Maldonado, por sua vez, acrescentou: “Alguns tentaram aproveitar-se do fato de que criava tudo e não precisavam fazer nenhum esforço, outros do fato de que os ajudava a produzir ideias. No campo acadêmico, segue sendo um desafio tanto para estudantes quanto para professores como implementá-la de maneira ética, sem que te suplante. Porque esse é o risco”.

Maldonado tomou a ideia de Harari e olhou para frente: “A IA é a primeira invenção humana autônoma. Aí reside o papel de tentar aproveitar o uso da tecnologia e torná-la uma ferramenta a mais no processo de aprendizagem. Não é usá-la para que faça uma determinada coisa por mim. A questão vai além, porque se trata de um agente autônomo que pode se tornar um auxiliar para melhorar o dia a dia das pessoas”. Ou piorar, você poderia pensar. E do que isso depende ainda é uma questão em aberto.

IHU – UNISINOS

https://www.ihu.unisinos.br/645534-o-futuro-da-ia-e-o-seu-impacto-no-conhecimento-mudara-a-forma-como-pensamos

 

Fonte:sintracimento.org.br

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